22.3.22

AS ÚLTIMAS FOLHAS DO OUTONO

A contemplação do fumo, depois de apagar uma vela.

*

A vela chegou ao fim, mas, eu continuo a escrever, â luz
dos olhos do meu gato.

*

Dou, todos os dias, um passeio, para ficar cada vez mais
imóvel
- Do que é que eu tenho medo?
- De Deus, porque, se Ele quiser, pode não existir.

*

No jardim, onde vi p´la primeira vez as tuas mamas,
há uma fonte
com uma mulher esculpida em bronze,
que empunha, com as duas mãos, uma lâmpada apagada.
Quando vi p'la primeira vez as tuas mamas a lâmpada estava acesa.

*

A dois passos do descaminho
o milagre da caligrafia
uma fonte
um largo largo largo largo horizonte.

*

O distúrbio da beleza:
viver encarcerado com as linhas do teu rosto.


António Barahona

NERVO/13   colectivo de poesia   janeiro-abril 2022, Editora Maria F. Roldão

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