12.4.22

ESPERANDO POR MATHIAS FERGUSON MORTO COM O SEU EXÉRCITO

Aquele poema, em que acabei por dizer
que o inverno traria notícias do norte, não resolveu
as minhas dúvidas. Nem a sua conclusão, nem o meu estado
de espírito, me puderam
esclarecer sobre a verdadeira natureza
da profecia; e se bem que hoje, passados muitos dias sobre o fim
do outono, algo me possa dizer que mahias ferguson,
o trombeteiro, tocou a madrugada, não ouço o tropel dos cavalos
nem reconheço, nas cores indecisas do horizonte, as cores
vitoriosas do regimento. O que terá sucedido, entretanto? Que planície
dá guarida aos corpos
dos soldados mortos? Quem, na solidão, terá congeminado
a desgraça para um país, e a dúvida obsessiva
para um poeta, a sul?


Nuno Júdice


50 Anos de Poesia - Antologia Pessoal (1972-2022), Publicações Dom Quixote, Lisboa, Março de 2022

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