6.4.23

Talvez a monja visse em meu olhar

XXVII


Talvez a monja visse em meu olhar
não o deus que renasce ao tê-la perto,
mas a luz que varreu do alto mar
os sonhos limpos e hoje é mar deserto.

Ou, não me vendo, só a si se visse,
atenta apenas ao deus que era nela,
se acaso, fora dela, o deus sorrisse
e uma flor não morresse, absurda e bela.

Pois, se assim fosse, fácil parecia,
idos sobre Teresa tantos anos,
não haver temor, pena, argila fria,

nem o Éden, devoluto e sem humanos,
da memória dos deuses levaria
verdes campos e os largos oceanos.


Nuno Dempster

Levitações. Monografia sobre Teresa de Ávila em 28 Sonetos Mais Um
, Edições Húmus, Vila Nova de Famalicão, Dezembro de 2022

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