pelos quintais,
tortuosos ademanes
de enlutada alegria.
Um silêncio côncavo
desce de um céu
inacessível
que uma réstia
de luz afunila.
Asfixiam as árvores
sob o coágulo dos frutos,
cuja requintada acidez
os pássaros debicam,
aturdidos de prazer.
Uma vertigem oblíqua
vara as águas paradas
da albufeira.
Nas vinhas,
os globos das uvas
arpoados
pelos insectos,
a gangrena
dos pirilampos,
a podridão da terra
pululante
de vermes
que as garças
degustam.
Um relento dúbio,
aviltante,
enlanguesce e supura.
E a indiferença,
como um véu,
caindo
sobre os vultos
na sombra,
tudo enleando,
tudo perfilando
na aura
aconchegante.
Uma aragem tímida
esmorece e desiste.
Imóvel na trave,
a forca esgarçada,
garrote para tanta
e tão escusada beleza.
João Moita
Que Túmulo em Que Talhão, Guerra e Paz Editores, Lda., Lisboa, 2022:17-19
Que Túmulo em Que Talhão, Guerra e Paz Editores, Lda., Lisboa, 2022:17-19
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