1.6.24

O PÃO

Não é ainda um seio
mas quase. Na brancura.
Porém, onda de leite
a branca levedura.

Um mecanismo incerto
de ferro e madrugada.
A fome e o excesso
futuros. Na seara.

A fome e a carência
de sol(o) para a boca.
Não é ainda um campo
de areia. Ou terra solta.

Um campo descampado
um canto com bolor.
É arte que se move
minéria como a água.

Engenho de palato.
Alvéolo de pulmão.
Respira-se o exemplo
de sol. Oxigénio.

Não é ainda um círculo
branco por toda a mesa:
manchado na toalha
de sombra e aspereza.

Não é ainda uma ave
descendo sobre a pele:
um mecanismo triste
movendo a boca breve.


Nuno Guimarães

Entre Sílabas e Lavas: poesia completa, Assírio & Alvim, Abril de 2024

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