30.10.11

[Por que me abandonam]

Por que me abandonam
os dias idos em que foi
largo o horizonte e hoje,
rasos, vagos, fendidos?

Um balouçar me mantém
à vida presa, a ninguém
eu que tive de antemão
tudo aqui

quase não existo. Serei rio
em leito imaginário ou deserto
em tudo único e vário?

Em verdade vos digo, a voz
um fio. Se neste dizer existo
ainda me sobra vida. Insisto.

Helga Moreira

TUMULTO, & etc, 2003

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