Que a sorte me livre do mercado e que me deixe continuar fazendo (sem o saber) fora de esquema meu poema inesperado e que eu possa cada vez mais desaprender de pensar o pensado e assim poder reinventar o certo pelo errado Ferreira Gullar Em alguma parte alguma, Ulisseia, Edição Babel, Lisboa, Outubro de 2010
Posta assim, como uma fraude à escala mundial a falácia que se esconde nas traseiras de um título, escrevo como uma puta, um meteorologista político que antecipa qualquer vento que sopre a ouvidos inocentes as verdades mais inconvenientes O meu trabalho é descobrir o nome mais bonito que se pode dar ao vandalismo, convencer toda a gente, como quem esconde um derradeiro eclipse de que escolher o romance não é caminhar para a falência Luís Pedroso ROMANCE OU FALÊNCIA, Edições Artefacto, Lisboa, Julho de 2014
tantos seres(tantos demónios e deuses cada qual mais ganancioso do que todos)é um homem (tão facilmente um em outro se esconde; e não pode o homem,sendo todo,fugir a nenhum) tão vasto tumulto é o mais simples desejo: tão impiedoso massacre a esperança mais inocente(tão profunda é a mente da carne e tão desperto o que o acordar chama dormir) assim nunca está o mais sozinho homem só (o seu mais breve respirar vive o ano de algum planeta, a sua mais longa vida é a pulsação de algum sol; a sua menor imobilidade percorre a mais jovem estrela) --como pode um louco que a si próprio se chama «Eu» supor que entende um não numerável quem? E. E. Cummings livrodepoemas, tradução, introdução e notas de Cecília Rego Pinheiro, Assírio & Alvim, Lisboa, Junho de 1999