3.12.16

NOITE

Do chão onde ontem enterrei
a noite irrompe como um garfo,
noite de hoje que eu não conheço
e todavia já 
noite velha que sei de cor.

Como um gesto premeditado,
nasce assim devagar,
tão nacional e tão leve,
tão primaveril pelas esquinas,
tão cheia de gatos nos telhados,
tão sem sono por ela adiante,
pequena noite habitual e casta
ligada ao dia por minúsculos grãos de café,
cores, vidros e frágeis cordões de fumo,
mas no entanto e sempre
tão principalmente noite.

José Manuel Simões

SOBRAS COMPLETAS, Prefácios de Helder Macedo e José de Sá Caetano, abysmo, Lisboa, Outubro 2016

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