Lemos napalm e imaginamos napalm.
Como não conseguimos imaginar napalm,
lemos sobre napalm, até conseguirmos
imaginar melhor o que é napalm.
Então protestamos contra o napalm.
Após o pequeno-almoço, emudecidos,
vemos fotografias do que o napalm é capaz.
Mostramo-nos retículas grosseiras
e dizemos: Estás a ver, napalm.
É isto que eles fazem com napalm.
Em breve haverá volumes ilustrados
baratos, com melhores fotografias,
em que mais nitidamente se vê
do que o napalm é capaz.
Roemos as unhas e escrevemos protestos.
Mas há, ao que lemos,
pior que napalm.
E logo protestamos contra pior.
Os legítimos protestos que a toda a hora
nos deixam redigir dobrar franquear têm impacto.
Impotência, testada em fachadas de borracha.
Impotência que põe discos: canções impotentes.
Sem poder, com guitarra. --
Porém, de malha apertada e tranquilo
o poder lá fora mostra a sua força.
Günter Grass
Às Vezes São Precisas Rimas Destas/Manchmal braucht man solche Reime (1914-2014), Edições Tinta-da-china, Setembro de 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário