11.4.18

QUEDA NA IMPOTÊNCIA

Lemos napalm e imaginamos napalm.
Como não conseguimos imaginar napalm,
lemos sobre napalm, até conseguirmos
imaginar melhor o que é napalm.
Então protestamos contra o napalm.
          Após o pequeno-almoço, emudecidos,
          vemos fotografias do que o napalm é capaz.
          Mostramo-nos retículas grosseiras 
          e dizemos: Estás a ver, napalm.
          É isto que eles fazem com napalm.
Em breve haverá volumes ilustrados
baratos, com melhores fotografias,
em que mais nitidamente se vê
do que o napalm é capaz.
Roemos as unhas e escrevemos protestos.
         Mas há, ao que lemos, 
         pior que napalm.
         E logo protestamos contra pior.
         Os legítimos protestos que a toda a hora
         nos deixam redigir  dobrar franquear têm impacto.
Impotência, testada em fachadas de borracha.
Impotência que põe discos: canções impotentes.
Sem poder, com guitarra. --
Porém, de malha apertada e tranquilo
o poder lá fora mostra a sua força.

Günter Grass

Às Vezes São Precisas Rimas Destas/Manchmal braucht man solche Reime (1914-2014), Edições Tinta-da-china, Setembro de 2017

Sem comentários:

Enviar um comentário