9.2.21

[Antes não havia muros, os que passavam]

Antes não havia muros, os que passavam
Iam com o silêncio de Deus à sua ilharga
E colhiam do chão o trevo e a hera
Como se não houvesse amanhã.

Até que alguém inventou a antropofagia,
O garfo e a colher, a faca de trinchar
E todos começamos a dar tombos
Nas veredas e nas zonas limítrofes

Dos quintais. Daí à invenção
Dos muros foi um passo, dizem alguns
Que com muita utilidade, sobretudo as crianças

E os gatos. Por mim, fazem diferença.
Estranho-lhes o peso e a condição oblíqua
Com que interferem com a minha independência.


Amadeu Baptista

POEIRA ESCURA, editora Eufeme, Leça da Palmeira - Portugal, Janeiro de 2021

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