18.8.12

A VOZ QUASE SILÊNCIO

vai-se perdendo a voz quase silêncio
um corpo agora oco       gasto       frio
a morte é uma cor que foi escolhida
para encontrar a direcção do vento

o homem que foi feto       que foi um peixe
que foi o ar    que foi o sangue e o gesto
atravessa o mar com círculos nos braços
possuído no seu próprio destino
na descoberta dos focos submarinos

ao nível das estrelas mais brilhantes
e no entanto desde há muito extintas
pode encontrar-se o grande amor final
pesar-se no seu som e qualidade

garganta de alcatrão fundente
vai-se perdendo a voz, quase silêncio

Manuel de Castro

EDOI LELIA DOURA antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa, organizada por Herberto Helder, Assírio & Alvim, Lisboa, Janeiro de 1985

2 comentários:

  1. Manuel de Castro, um dos surrealistas do café Gelo!
    Foi uma boa surpresa encontrá-lo aqui.

    Tenho por aí «A Estrela Rutilante», vou ver se encontro o «Último Poema Possivelmente de Amor»
    e o ponho lá na minha chafarica. Ele anda tão esquecido. E não merece.
    Obrigada por esta boa surpresa.

    ResponderEliminar
  2. Cheguei ao poeta Manuel de Castro através da antologia onde colhi o poema. E, infelizmente, é um dos bastante esquecidos. Daí o tê-lo trazido para o blogue, para combater essa desmemória.
    Agradeço a leitura e o comentário.

    ResponderEliminar