14.9.12

[Não crispes o desespero]

Não crispes o desespero
com os dedos,
nada crepite
à flor da pele.

És um burguês altivo,
dominador, seguro;
mantém o retrato
bem iluminado.

Guarda o que sentes
entre as costelas,
nem o hálito enrugue
o vinco das calças,
os álgidos rebuços.

Se tudo cai ao lado
reforça a couraça...
peneiradas as dúvidas
fragmenta-as na cinza.

Que ninguém pressinta
que os escombros são teus.

Egito Gonçalves

O FÓSFORO NA PALHA, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Abril de 1970

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