Depois de ver, na televisão, uma
entrevista com Eugénio de Andrade.
Coitados dos poetas premiados!
Dão-lhes um cheque só pra ver navios,
que não vão viajar depois de velhos,
nem 'screver odes, com flebite, anémicos.
Coitados dos poetas tão dispersos:
não cabem em si próprios nem nos prémios,
soprados e lambidos plos políticos
que citam nas arengas os seus versos.
Coitados, não! Talvez seja bem feito!
A vingança de Deus já não ilude;
e reservado está prémio maior
pra quem da discrição fez seu defeito
e, não contente, dedicou virtude
ao silêncio de Deus e seu sabor.
António Barahona
DEITAR A LÍNGUA DE FORA (Vários Autores), Língua Morta, Julho de 2012
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