5.3.14

Quarta-feira de cinzas

É quarta-feira de cinzas
e o sol mostra-se avaro,
mas por muito que ranzinzes,
o tempo, se bem reparo,

não se deixa impressionar
com desgraças ou prenúncios
e tende a continuar
impassível aos anúncios.

O tempo é mesmo assim,
e prossegue o seu caminho
sem cuidar de qualquer fim,
pois quem expira é sozinho

que o faz, mesmo que tenha
a quem dar o santo-e-senha.


© Domingos da Mota


3 comentários:

  1. Querido Poeta, leio sempre com interesse seus poemas e gosto muito deles, mesmo não sendo fáceis de ler e perceber para mim, aprendiz de português. Ainda assim, procuro amiúde traduzir seus versos, um desafio apaixonante. Envio-lhe a minha versão de “Quarta-feira de cinzas”: procurei respeitar os valores da métrica original, onde possível, só tive que estender os dois versos finais pela impossibilidade de traduzir de forma literal “o santo-e-senha”.
    Em geral, acho que não fui um tradutor-traidor!
    Considere isso um testemunho de estima e simpatia (no sentido etimológico do termo). Boa quarta-feira de cinzas!

    Mercoledì delle ceneri

    È mercoledì delle ceneri
    e il sole si mostra avaro,
    ma per quanto ciò ti esasperi
    il tempo, se son nel vero,

    non si lascia impressionare
    da disgrazie e preannunci
    e tende a proseguire
    impassibile agli annunci.

    Il tempo sempre così agisce,
    e seguita il suo itinerario
    senza curarsi di ciò che finisce
    perché chi spira è solitario

    che lo fa, benché sappia a chi dare
    la parola d’ordine come lasciapassare.

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    1. Caríssima Manuela,

      Só tenho a agradecer-lhe a estima, a simpatia, e a extrema generosidade de se ter dado ao trabalho de traduzir este meu poema (e creio bem que sem as traições a que alude). Mesmo sem dominar a língua italiana, li a tradução em voz alta,e gostei da sonoridade do poema nesta bela língua.

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