Não sei quem me manda a poesia
nem se Quem disso a chamaria.
Mas quem quer que seja, quem for
esse Quem (eu mesmo, meu suor?),
seja mulher, paisagem ou o não
de que há preencher os vãos,
fazer, por exemplo, a muleta
que faz andar minha alma esquerda,
ao Quem que se dá à inglória pena
peço: que meu último poema
mande-o ainda em poema perverso,
de antilira, feito em antiverso.
João Cabral de Melo Neto
Olhos de Orfeu, DOZE POETAS NO PORTO, organização e prefácio de António Roberval Miketen, Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Dezembro de 1985
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