Nunca nada dito. Sempre nada dito. Calar de vez o silêncio. Se eu che-
gar até onde não cheguei, cheguei. Se não até mim tu chegas. Se fosse
minha a tua noite, seria nossa a nossa noite.
Sempre nada dito.
Concretizar o sonho de ir contigo até ao quarto da luz clara. Tal e qual
o cântico da manhã. O que resta, desdenhemo-lo. Desdenhemos a cabe-
ça pensante de quatro patas. A bactéria assassina que anda nos nossos
passos e o mundo da fantasia negra. Esqueçamos tudo, rapariga, juntos
faremos uma viagem de comboio até à tua e até à minha terra. Temos o
pincel e a espátula. A folha e a caneta. O gesto certeiro. Nenhum vestígio
deixaremos para trás deste mal que nos aflige. Aonde tu foste os meus
olhos seguir-te-ão. Serei uma sombra parda a abrir-te caminho até ao sol.
Não te enganes que na terra do nunca nada dito se não falarmos eu
não te encontro. Na terra do nunca nada dito se as palavras falharem
eu não te encontro. É uma questão de ângulo. E de eu te dizer, está na
hora. E de tu mo dizeres.
A CRIANÇA QUE RI, PRÉMIO DE POESIA EUGÉNIO DE ANDRADE 2011, Modo de Ler - Editores e Livreiros, Lda, Porto, 2012
Obrigado.
ResponderEliminarCarlos Torres Figueiredo
Caro Poeta,
ResponderEliminarEu é que me sinto honrado com a publicação deste seu belo poema no blogue. Bem avisado foi o júri que lhe concedeu o prémio de poesia Eugénio de Andrade. Os meus parabéns, e o meu agradecimento.
DM