13.5.12

[O deserto está no fundo dos meus olhos]

O deserto está no fundo dos meus olhos.
E por todo o corpo as vagas cavidades
com suas flores de náusea
com suas estrelas mortas
e a paralisada adolescência das suas hastes
com um odor a morte.

A própria sonolência é uma sinistra
imersão no inferno.
Todo o corpo é um espaço devastado,
um túnel cilíndrico
povoado de moles nebulosas.
Só o falo se retesa
e se lembra que ainda sou uma centelha
e uma vibração solar.

O que ressoa ainda o que ainda treme
é uma delinquência que abortou
em pungentes imagens
cobertas de bolor.

António Ramos Rosa

TRÊS [Pequenas Combinações da Pátria e do Mau Tempo], & etc, Lisboa, 1995

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