O deserto está no fundo dos meus olhos.
E por todo o corpo as vagas cavidades
com suas flores de náusea
com suas estrelas mortas
e a paralisada adolescência das suas hastes
com um odor a morte.
A própria sonolência é uma sinistra
imersão no inferno.
Todo o corpo é um espaço devastado,
um túnel cilíndrico
povoado de moles nebulosas.
Só o falo se retesa
e se lembra que ainda sou uma centelha
e uma vibração solar.
O que ressoa ainda o que ainda treme
é uma delinquência que abortou
em pungentes imagens
cobertas de bolor.
António Ramos Rosa
TRÊS [Pequenas Combinações da Pátria e do Mau Tempo], & etc, Lisboa, 1995
Mais uma grande figura do mundo da poesia!
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