9.11.20

O veneno existe ao meu lado

O veneno existe ao meu lado
diz-me que é feliz
subitamente tira a mascarilha.
Canta na sua voz rouca
o barroco ou a essência de um cometa
de infinitas mutações.

Palavras incandescentes
que deixo à guarda dos teus silêncios
logo ali lançam raízes
na primavera
florescem em mil bocas sequiosas.

Sete óvulos
passaram por este leito
tinto de sangue
e de vinho.

Mas quando a noite por fim me visita
vem exausta.

Então olho-te como a luz me olha
como uma ininterrupta jogada com o tinteiro seco
como o momento preciso
em que o espelho encontra a árvore,
perdida no labirinto.


                                                                                              Áfricas 60


Artur do Cruzeiro Seixas


Obra poética - I [Organização de Isabel Meyrelles], Porto Editora: Junho de 2020

Sem comentários:

Enviar um comentário