7.1.13

[Antemanhãs como essa, em que assassinos]

Antemanhãs como essa, em que assassinos
avançam para o sangue no silêncio
frio da noite, tem havido tantas
que já nem se ouve o grito degolado
com que a vida termina de repente.
Há muito se tornaram em costume.
Assim Inês, assim os outros todos
que a História não regista. Todavia,
vivemos sobre mortos que nos gritam
quando acordam. Inês e Lorca gritam
Se le vio caminando entre fusiles»),
grita ainda no Prado o homem de Goya,
longos versos de Sena aos fuzilados.
Revolvo-me ao ouvi-los, Inês bela.
Não conheço justiça que os redima,
e, com eles, os outros mortos todos
que nenhum deus salvou da madrugada.

Nuno Dempster

Pedro e Inês: Dolce Stil Nuovo, Edições Sempre-em-Pé, Setembro 2011

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